terça-feira, 25 de junho de 2013



Mini curso de férias NAEPP
"O corpo, o gozo e os novos sintomas"
Segundo Maurício Tarrab, Psicanalista da Escuela de Orientación Lacaniana (EOL), Secretário do Conselho da Associação Mundial de Psicanálise, Fundador da TyA, Rede Internacional de Toxicomania e Alcoolismo do Campo Freudiano, o que hoje chamamos "novos sintomas" coloca em evidência os limites de nossa prática. O rechaço do Outro não foi recebido de bom grado pelos psicanalistas, mesmo que já viéssemos nos ocupando disso no Campo Freudiano há muito tempo, num trabalho de antecipação que já deu seus frutos. Os "novos sintomas" mostram os limites de nossa prática sob transferência porque são paradigmáticos desta época de rechaço do saber, de decadência das referências ligadas ao ideal, de vacilação dos semblantes na cultura.Nós devemos demonstrar a eficácia de nossa prática psicanalítica e lacaniana neste mundo asséptico, incrédulo a respeito da eficácia do saber que não seja derivado dos números e encarnado nas tecnologias. Devemos demonstrá-la neste mundo cada vez mais canalha, já que suas formas de domínio e seus tratamentos cruéis se aperfeiçoam implacavelmente; neste mundo cada vez mais cínico, que mostra com crueza que, no final das contas, só importa o gozo de cada um. Assim neste mini curso a proposta é de uma reflexão sobre a Psicanálise e a Contemporaneidade, tema que está incluído em todas as atividades do Naepp neste ano de 2013.
Data de 01 a 04 de julho de 2a a 5a feira.
Horário 19:00-21:00
Locas NAEPP-Núcleo de Atendimento, Estudo e Pesquisa em Psicanálise
Preço 150,00 (para alunos da UNIP 100,00). Incluso o material do curso.
Fale comigo !!

domingo, 23 de junho de 2013

Raimunda Duarte, um monstro !


Raimunda Duarte

O autor e teatrólogo piauiense Francisco Pereira da Silva (1930-85) ,talvez não pudesse imaginar sua obra no futuro sendo tão magistralmente esculpida pela atriz-monstro (explico-me depois) Regina Duarte, carinhosamente conhecida como ‘a namoradinha do Brasil’. Mas , se ele visse o que eu vi ontem no teatro ali da sexta fila do gargarejo, como vi, teria ,certamente,se enchido de orgulho até as tampas e aplaudido de pé.Ao comemorar  seus 50 invejáveis/brilhantes anos de carreira, La Duarte dá vida à história de Francisco.Mas dá vida mesmo, não simplesmente representa Raimunda.
Raimunda /Raimunda (assim mesmo, duas vezes) nos revela a MULHER em sua complexidade,a mulher do futuro (primeiro ato) e a mulher do passado (segundo ato),fundindo-se numa versão legítima do feminino que lança sempre as perguntas que o definem :o que quer  uma mulher ? O que é uma mulher ?
Em tom de farsa tragicômica (e não é essa a nossa trajetória ?) , Regina nos traz uma Raimunda fogosa, desejante, cheia de sonhos na cabeça e ardores no corpo.Lábios leporinos, voz fanha e uma vida de miséria marcam no corpo e na alma a falta . E o que ela faz com isso é o que vai nos levando pelas estradas em que caminhou, as boléias de caminhão em que se pendurou, a busca pela carreira de enfermeira, a luta para melhorar sua aparência,os casamentos, os abusos que sofreu , as danças que dançou, os excessos que cometeu, o desassossego que a acompanhou e que no final, a leva de volta pra casa, sozinha. Vivendo sua castração em todos os verbos e vestindo o misterioso véu do feminino.  Raimunda fala de nós pra nós. Tocou fundo no meu fundo.
Mas eu como artista, criança,mulher, sujeita , apaixonada que sou por Regina ('since' Malu Mulher,sim eu já tinha nascido), não molhei o rosto só por Raimunda ,Raimunda. Foi Regina (que significa Rainha, também no nome daquela que me gerou) quem me fez aplaudir de pé. Regina, essa menina,a filha do militar com a pianista, foi ela em sua melhor forma aos 66 degraus de vida. Ela, que não sai de cena (a não ser para trocas urgentes de figurino) dançou,pulou, rolou no chão, correu pra lá e pra cá representando presente,passado e futuro em quase duas horas de peça, visivelmente,sem se cansar.Preparada,dirigiu e encenou ,nitidamente dando o seu melhor para o público ,ali hipnotizado por ela.Me arrepiou, me inspirou , me encheu de esperanças , me fez pensar que a vida vale à pena, me fez gargalhar e chorar.Repeti, baixinho com ela ,a frase que repete ao palhaço tantas vezes : “Enxuga minhas lágrimas com seu lencinho de mil cores?".
Regina é mesmo dessas mulheres que não saem de cena. NUNCA SAIU.
Depois de ver no palco,nos últimos meses da minha estrada, Caetanos, Bethânias, Babys ,Fábios, e Regina, pensei ao final do segundo ato : QUE ORGULHO DESSA GENTE TÃO JOVEM, QUE ORGULHO, MEU DEUS !
E agora me explicando quanto a chamá-la de MONSTRO :é porque Monstro  é o nome dado genericamente a um ser fantástico ou criatura lendária, de aspecto e atos aterrorizantes. Ela é terrível mesmo, como toda mulher que se preze deve ser
.
Mirelle Araújo (artista e psicanalista)