segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O PALHAÇO de Selton Mello

Ahh... Como é bom falar de Selton Mello... (Ator e diretor do filme " O PALHAÇO" ,ao qual acabo de assistir)
Bem, primeiro que falar de arte é bobagem, né? Reduz o seu propósito.Arte é pra sentir e não pra falar.Mas o filme de Selton, me desconcerta,pois é do tamanho do seu talento e da sua delicadeza artística. Os pais no cinema (desavisados) que levaram suas crianças, certamente motivados pelo nome do filme, logo nos primeiros minutos entenderam o equívoco. E há que se saber: não é porque é alegoria, que é pra criança,assim como não é porque é desenho animado, que é infantil.E embora sejamos todos ' velhas crianças' o filme é adulto pra caramba.
Enfim, o filme de Selton trata do palhaço à procura de sua alma .O personagem descobre o que todo artista deve descobrir ; que sem alma ele não consegue fazer o outro rir;que pra vender sua graça, é preciso acreditar nela.De outra forma, o que explano é o meu vazio.E é justamente do furo que Selton vai falar.O palhaço vai falar da falta e do desejo.E como sabe fazer bem feito,redondinho. A gente ri e chora assistindo. Suspira e reflete. Respira e se identifica,porque somos nós o palhaço. Em busca de: coragem para sermos nós mesmos (tal como a menina da espada - a mulher mais corajosa do mundo), em busca de amor (que pode ser da Ana, da fulana ou da menina que sorri no caminhão), em busca de ar,de alívio (que pode ser o ventilador que ele alucina e idealiza),em busca da gente mesmo.O pai (feito pelo irretocável Paulo José), figura crucial e definitiva, lhe deu um lugar;um lugar no espelho.O lugar do palhaço filho , no circo do palhaço pai.E foi tão bonito quando num ato de amor, lhe liberou para se deslocar e se despregar da estória dele mesmo, para a qual (agora guiado pelo próprio desejo), ele retorna (como não poderia deixar de ser) regojizado de si,trazendo sua própria estória.(tão bem representado pelas cenas onde ele descobre que precisa fazer a sua carteira de IDENTIDADE para ser alguém reconhecido como alguém).
O filme fala tão bem da falta,e de questões outras tantas, que para mim, mera espectadora, não lhe falta nada. Lindo! Lindo! Lindo Selton ! Aplausos, por favor.

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